quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O sujeito psíquico

   Segundo D. Rousset: “Os homens normais não sabem que tudo é possível”. Partimos de uma constatação que com o discurso sobre a emancipação e o progresso humano a idéia de que o indivíduo devia e podia tornar-se um sujeito autônomo, sujeito histórico (como disse Walter Benjamin: “Todo indivíduo é um ser histórico”), sujeito de direito, sujeito psíquico e sujeito moral, portanto, sujeito de suas ações.
   Para que o indivíduo pudesse tornar-se um ser histórico, foi preciso naturalmente que ele se tornasse um ser de direito. O sujeito de direito é um indivíduo considerado, respeitado frente a todos os outros e que está sob a proteção de uma lei semelhante para todos.
O nascimento do sujeito psíquico é mais recente. 
  Ser reconhecido como sujeito psíquico é ser respeitado em seu fórum interior, no seu trabalho de pensamento, na sua atividade de sublimação, ser protegido das “mortes psíquicas”, realizadas pelos adversários que são, às vezes, os pais, e aparecer como “o mais insubstituível dos seres”, dando às imagens de intimidade todo o seu vigor. O sujeito psíquico é, assim, um ser que reconhece as suas contradições e os seus conflitos, sabendo que não é totalmente senhor de sua própria casa pelo fato de existir o inconsciente, submetido à vacilação e ao medo do despedaçamento, mas capaz de fazer de suas falhas o trampolim para chegar à posição de sujeito humano e de sujeito social. O homem não teria mais necessidade de grandes transcendentes para conduzir a sua própria vida.
  Uma personalidade que representa em grande parte o sujeito psíquico é Alberto Caeiro, poeta e heterônimo de Fernando Pessoal. Um exemplo a ser dado é  um trecho do poema "Quando está frio no tempo frio para mim é como se estivesse agradável":

"Aceito por personalidade.

Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo."

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