quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Educação em tempos de paradoxo

Os quatro pilares da educação do sec XXI são algumas das bases que deveriam ser sustentação da educação nos países. Aprender a conhecer, a partir do sentido que promove a capacidade de discernir, devemos ter a curiosidade de perguntar para manter o movimento, reconhecer que na atualidade o surgimento de conhecimento só vem dos campos tradicionais de conhecimento. Um profissional para ter excelência, para ser bom deve conhecer além da sua área de atuação, conhecimento específico, o conhecimento geral e específico devem andar juntos. Para que haja a qualidade, a pratica e a teoria devem andar juntas, elas são indissociáveis.
Aprender a fazer é indissociável do conhecer, pois o fazer não pode ser só a aplicação de uma metodologia, mas se deve conhecer sobre o processo, os fundamentos, para saber agir em quaisquer que forem as situações que ocorrerem.
Aprender a viver juntos, capacidade de dialogar, de trabalhar em conjunto, isso volta na questão do produzir conhecimento, estar na fronteira do estranho, em contato com coisas e saberes diferentes. Esse aprender a viver juntos não deve ser na tolerância.
A maior armadilha é achar que sempre os outros é que não respeitam os gordos, que os outros não respeitam os velhos, essa forma de pensar e agir é não nos reconhecermos, pois nos somos assim, a sociedade nos impõe essa maneira de ser a agir.
A charge a seguir é um retrato da qualidade da educação na atualidade: 


Identidade Compacta

  A identidade compacta é uma identidade (atitudes) que as pessoas devem incorporar para serem vistas bem pela sociedade e não serem criticadas pela sociedade, mas isso deve ser visto conhecendo o individuo, o  do seu eu. Hoje na contemporaneidade com essa necessidade e força para consumir e ter desempenho, prende o sujeito ao imediato, fazendo com que o sujeito se distancie mais e mais do seu interior. Segundo Enriquez: “O conhecimento da psique como força operante tem, portanto, como resultado a sua destruição ou, pelo menos, a sua submissão, frequentemente com seu consentimento e com sua satisfação” (Enriquez p.50).

O inconsciente fala mais do ser humano do que ele pode falar, isso divide a identidade, leva o sujeito a não se conheça , quanto mais achamos que estamos no controle, mais as coisas se descontrolam. Estarmos fora do controle torna-se é mais fácil de andarmos nessa turbulência, de nos conhecermos.

Devemos conhecer o diferente, não com sentimento de pena, mais sabendo que existem diferenças e que elas devem ser tratadas igualmente, hoje existe muita discriminação com relação ao diferente.

Também não se pode colocar todos os indivíduos diferentes num mesmo local por imposição pois isso pode agravar o problema, os conflitos e discriminação, um modo para tentar diminuir essa discriminação seria através de estratégias onde todos teriam um objetivo em comum ou estratégias que beneficiem a todos.

Há um valor que se atribui o diferente, como sendo algo negativo, se trata com estranheza, sentimento de medo, ele se representa como uma ameaça. O diferente esta associado um valor negativo de destruição da nossa noção de identidade, individuo e nos deixa frustrados. A causa desse sentimento é também da formação das sociedade compactas ( mudanças, permeabilidade, incorporação).

Quando se vê o diferente se totaliza o individuo em um traço, por exemplo, a gorda, o velho, esse traço não diz quem é o sujeito, ele o captura, elimina o sujeito, o concretiza.A sociedade impõe a competição, ser lindo, saudável, respeitar a natureza, não fumar entre outros, todos esse discursos corroboram para um emplacamento da sociedade, não deixando o sujeito entrar em contato com seus conflitos e o faz ter uma identidade forjada. Não já ninguém como a sociedade impõe sendo o mais lindo ou o mais inteligente ou alguém que não tem bafo de manha, então o individuo sempre busca mais.

A identidade compacta (imposta, artificial) cria armadilhas, quanto mais compacta essa diferença mais ela se torna preconceituosa.


Hoje tudo depende do momento, hora se defende uma causa se ela satisfazer algum interesse seu e hora não se defende quando seus interesses não são atendidos.

Uma música que se relaciona com este tema é "Um cara estranho" do extinto grupo Los Hermanos, seguem alguns trechos:
Olha só, que cara estranho que chegou
Parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém

Tem tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem

Olha ali, quem tá pedindo aprovação
Não sabe nem pra onde ir
Se alguém não aponta a direção
Periga nunca se encontrar
Será que ele vai perceber?
Que foge sempre do lugar
Deixando o ódio se esconder

Talvez se nunca mais tentar
Viver o cara da TV
Que vence a briga sem suar
E ganha aplausos sem querer

Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir.

O sujeito psíquico

   Segundo D. Rousset: “Os homens normais não sabem que tudo é possível”. Partimos de uma constatação que com o discurso sobre a emancipação e o progresso humano a idéia de que o indivíduo devia e podia tornar-se um sujeito autônomo, sujeito histórico (como disse Walter Benjamin: “Todo indivíduo é um ser histórico”), sujeito de direito, sujeito psíquico e sujeito moral, portanto, sujeito de suas ações.
   Para que o indivíduo pudesse tornar-se um ser histórico, foi preciso naturalmente que ele se tornasse um ser de direito. O sujeito de direito é um indivíduo considerado, respeitado frente a todos os outros e que está sob a proteção de uma lei semelhante para todos.
O nascimento do sujeito psíquico é mais recente. 
  Ser reconhecido como sujeito psíquico é ser respeitado em seu fórum interior, no seu trabalho de pensamento, na sua atividade de sublimação, ser protegido das “mortes psíquicas”, realizadas pelos adversários que são, às vezes, os pais, e aparecer como “o mais insubstituível dos seres”, dando às imagens de intimidade todo o seu vigor. O sujeito psíquico é, assim, um ser que reconhece as suas contradições e os seus conflitos, sabendo que não é totalmente senhor de sua própria casa pelo fato de existir o inconsciente, submetido à vacilação e ao medo do despedaçamento, mas capaz de fazer de suas falhas o trampolim para chegar à posição de sujeito humano e de sujeito social. O homem não teria mais necessidade de grandes transcendentes para conduzir a sua própria vida.
  Uma personalidade que representa em grande parte o sujeito psíquico é Alberto Caeiro, poeta e heterônimo de Fernando Pessoal. Um exemplo a ser dado é  um trecho do poema "Quando está frio no tempo frio para mim é como se estivesse agradável":

"Aceito por personalidade.

Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo."

Sexualidade e subjetividade

  A sexualidade é vista como uma forma de subjetividade, uma relação do outro com um objeto na busca da satisfação do prazer rápido, o termo “ficar” gera muitas vezes conflito e crise pelo sentimento de continuidade, de estabilidade que tem, como isso se fosse um problema. A ideia de compromisso gera a responsabilidade, o sentimento de se privar de algumas coisas, perda da liberdade, isso tem uma representação contraria a da juventude gerando a subjetividade. Como se o fato de relacionar com o outro fosse uma perda de ter novas experiências, esses são as aspectos da contemporaneidade.
  Enriquez fala no seu texto que a “interioridade”  esta se deteriorando, hoje as pessoas são forçadas a demonstrar o desempenho “corpo hábil”, com vitalidade pois isso é efeito de valor na sociedade.
O inconsciente (demonstrado através dos sonhos) tem a ver com as identidade múltiplas que temos, de não conhecermos nos mesmos, nos conhecemos apenas uma parte de nos.

A renovação do individualismo tem por fim suprimir o sujeito e a vida interior (Enriquez p.46); pois o individuo que age contrapõe-se ao individuo que pensa, filosófa.
Hoje o mundo exige tanto desempenho do individuo impondo-o a não mostrar seu interior principalmente no trabalho, porém, isso é muito difícil, quase impossível. Isso  que é colocado pela sociedade como valor de deixar os “problemas em casa”, que é empobrecedor, provoca uma violência contra si mesmo, pois o individuo geralmente tem pra si que é fracassado, essa é geralmente uma pessoa “fria “ que é atribuída a uma crítica.
 Um filme que faz referencia a sexualidade e a subjetividade é "Closer- Perto Demais" dirigido por Mike Nichols

Risco- A base antropológica e econômica da sociedade contemporânea

 A partir do artigo de Mary Jane P. Spink "Trópicos do discurso sobre risco: risco-aventura como metáfora na modernidade tardia" podemos compreender que na modernidade  o risco permeia vários ambitos da sociedade, e proporcionou  avanços na engenharia e economia. Porém existe também o aspecto cultural e antropológico do risco, que passa a ter um significado dialético na contemponeidade, ao mesmo tempo que é entendido como um fator  de construção do caráter também pode levar a depressão. Entre as práticas de riscos existem o risco aventura, o consumo de drogas entre outras.

Individualismo

Ainda dentro do tema da contemporaneidade e individualismo a letra da música "Individualismo de massa" da banda Dead Fish coloca muito bem a relação entre o colapso do coletivismo e a ascensão do individualismo.

Individualismo De Massa
Dead Fish



Eu sou o indivíduo hoje
Não venho do nada
Meu momento é aqui

Não sei se lhe devo respeito
De lhe ser direito
Você deve me respeitar

Na verdade eu penso que
Sou um mas sou um milhão
Prefiro nem parar para pensar
Não me venha com apatia
Individualismo de massa
Pra acabar com nossas vidas

Vivo meu mundo perfeito
E não paro pra pensar
Que existem outros ao meu lado,
Cada um em seu lugar
Não respeito opiniões, muito menos decisões
Sou contra o diferente, eu nem considero gente
Minha vida é criticar, muito mau eu vou falar,
Você pode me repregar ...

Na verdade penso que
Sou um mas sou um milhão
Prefiro nem parar para pensar
Não me venha com apatia
Individualismo de massa
Pra acabar com nossas vidas

Não venha me pedir ajuda
Pois sou um hipócrita
Digo o que é melhor pra mim
Acho bem melhor assim
Quero ser igual aos outros,
Quero sempre estar na moda
Eu quero ser popular
Vou me auto-estimar

http://www.youtube.com/watchv=a3qnfCCLyNQfeature=related

Contemporaneidade


  A sociedade de hoje esta individualizada e ao extremo leva a crer que o olhar ao próximo já não mais existe. Não existe somente o lado social ou o lado individual, os dois discensos se interagem, impactanto na vida do individuo.
  A própria tecnologia ao mesmo tempo que ela ajuda promovendo o conhecimento tecnológico, cientifico e de pessoas, também exclui aqueles que não participam dela e excluem cada vez mais.
  Hoje existe uma liberdade sexual sem precedentes desde que seja consensual, ao mesmo tempo que se um aumento do numero de denuncias por abusos sexuais.A modernidade construiu e enfatizou a noção de individualidade e atualmente leva a noção de individuo as ultimas consequências.  Como decorrência, na contemporaneidade as identidades não se constroem mais por “delegação antecipada”, cada sujeito então deve constituir-se por seus próprios meios.
  Em decorrência disto surge o desamparo, que é a sensação de vazio, falta de chão, de referencia e de fundamento. Para  constituir-se o sujeito de poder confrontar-se com sua condição exorável de desamparo, precisa entrar em contato genuíno com isso para seguir. Como já foi dito uma das causas do desamparo hoje é o individualismo, a falta de interesse maior entre as pessoas ou condições que as favoreçam nesses interesses. O masoquismo passa a ser um forma de se proteger do desamparo.
  A pintura "O Grito" de Edvard Munch representa em grande parte o desamparo, uma profunda angustia e desespero existencial.